Crônica Objeto
Antonio Lages Nº 3
Tic... Tac...
Tic... Tac... Esse é o barulho que faço sempre quando meu ponteiro esta
girando, também fazia esse barulho quando
me sentia observado...
Mas agora, eu já estou acostumado em ser observado, pois sempre tem alguém que
esta me olhando. A parte do dia que tem mais pessoas me olhando é a partir das
1:00, porem não são os humanos grandes, que também geralmente me observam, mas
fazem isso antes das 1:00, e sim os humanos pequenos, que variam de tamanho.
Algo me diz que essas pessoas tem uma espécie de ritual, pois sempre, em cada
dia, em um determinado horário, em que meus ponteiros estalam, eles decidem me
observar, alguns me olham com uma cara de estresse, outros me olham com um
olhar de alivio, e isso eu nunca compreendi, desde quando fui pendurado nessa
parede branca neste colégio...
Alias, vivo me
perguntando de como seria bom poder sair dessa parede e correr, andar, voar
como um pássaro talvez, mas já estou tanto tempo pendurado nessa parede que já
tive milhares de sonhos, imaginando que podia fazer essas ações que eu, um
objeto inanimado, não posso fazer. As vezes, coisas estranhas acontecem comigo,
conforme os dias, eu vou ficando sonolento, e cada vez vou funcionando pior até
que... Puff! Eu acordo, com muita energia e meu ponteiro sai desparrado, mas...
Sempre quando essas coisas acontecem aparece um humano adulto que as vezes não
é o mesmo de antes, e sempre quando eles aparecem estão em cima de uma escada,
ao meu alcance, me segurando e me pendurando na parede novamente... Isso é
muito esquisito, já tentei varias vezes tentar sair de suas mãos e ser livre, e
tentar viver como todos os outros humanos fazem, porem sou apenas um relógio, e
não fui programado para ter pernas e mãos, e ser alto.